terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Povo Da Fúria, Cap II, sequencia 4

Antes de ler este texto, leia: Povo da Fúria - sequência 3

Capitulo II

Premiações

                Grandes fogueiras se erguem em toda pequena vila de Taporan. A música preenche o ar, e as vozes exaltadas de todos se fazem ouvir a quilômetros de distância. O cheiro de bebida e comida também é forte. A alegria da aldeia é contagiante. Não há uma única casa que esteja com alguém que não esteja sorrindo, cantando ou dançando.
                As pessoas alegres comemoram a boa caça. As provisões que seus caçadores trouxeram em seu retorno de caçada foram o dobro do último solstício. Há muitas razões para o povo comemorar. Pois o inverno pode adentrar com toda sua força, que o povo de Taporan estara preparado.
                Crianças correm por entre as fogueiras e se dirigem até onde fica a aglomeração maior de pessoas da vila. Na parte oeste dela se encontra a grande casa do lobo. Uma cabana enorme feita de troncos de pinhos entrelaçados com um telhado enorme em forma de cabana  feito de uma treliça tramada de folhas enormes de casca-raza, uma árvore nativa de Rashmen que cresce a tamanhos gigantescos e possui folhas enormes como um chicote que despencam da copa ao chão.
                À porta da grande estrutura, se encontra a cabeça de um grande lobo atroz empalhada, denotando a presença da besta que guarda a casa destes guerreiros. Pois em Rashmen os guerreiros são divididos por estes clãs, que são protegidos e guiados por diversos tipos de bestas diferentes.
                É neste local, na Casa do Lobo, que se concentra uma grande parte do povoado nessa noite, comemorando e exclamando os feitos dos jovens que conseguiram cumprir seu dajema.
                Esse ritual que transforma garotos em adultos é feito das mais diversas maneiras, desde uma prova de coragem até uma caça bem feita. Em Taporan semanas antes do  início do inverno os guerreiros saem de sua aldeia em busca de caça e provisões. É nessa hora que grande parte dos jovens da tribo os seguem para cumprir seu ritual. A noite é especial em Taporan, pois muitos de seus adolecentes, concluiu seu dajema. Para os jovens  parados a frente do portão da enorme cabana a alegria é ainda maior. Toul e Jekita passaram no dajema com louvor, os dois juntos venceram em combate um enorme urso pardo, um dos animais mais ferozes das redondezas de Rashmen.
                Mulin o líder do clã do lobo, é questionado a cada momento sobre como ele encontrou os jovens sobre a fera abatida. E este, não cansando de recontar, a cada nova narração acrescenta um elemento novo a história. A versão é contada tantas vezes durante aquela noite que os dois jovens já começavam a confundir a verdade dos fatos com a fantasia do povo de Taporan.
                Uma pessoa estava particularmente muito satisfeita: Jurimik, o taverneiro não se cansava de admirar seu filho. Ele do alto de seus quase dois metros de altura. observava o jovem que ficava de pé, rijo como um soldado veterano de exército, com os olhos sempre fixos no seu mestre e líder de clã, com um sorriso que teimava em se formar levemente no rosto. Jurimik tinha vontade de dizer ao filho que este podia sorrir, que este era seu dia, mas ele não podia, o direito de apresentações e cerimônia cabia somente ao chefe da casa do Lobo, Mulin seu grande amigo.
                Ambos cresceram e lutaram juntos por muitos anos, inclusive, se recordava o pai de Toul, havia concluído o dajema em sua juventude acompanhado de Mulin. Mas os dias de aventura para o guerreiro aposentado haviam acabado e apesar de admirar o feito de Toul, secretamente Jurimik esperava que este seguisse com seu pequeno comércio na aldeia, constuindo família e um lar, longe dos perigos de guerras e aventuras perigosas.
                Um hurra enorme vindo da multidão pela centésima vez em louvor a Toul e sua prima, desmanchou as esperanças de Jurimik. Ele sabia que seu filho não trilharia o futuro que ele planejara.
                Repentinamente um silêncio se fez na aldeia e as pessoas abriram caminho nela, formando um imenso corredor vivo.
                Por elas caminhava uma comitiva. Vinte cavalos selados traziam em suas garupas sete homens e treze mulheres. Dez guerreiros e dez bruxas. Cada guerreiro posicionou-se ao lado de sua bruxa montando guarda. Um par destes, guerreiro e bruxa tomou a dianteira. O povo de Taporan baixou a cabeça em um movimento conjunto por alguns segundos em sinal de respeito e o gesto por parte dos recém chegados foi retribuído. A bruxa e o guerreiro a frente dos cavaleiros fez seu sinal típico e um a um todos os vinte e dois jovens que passaram no dajema se posicionaram lado a lado como uma muralha para serem inspecionados.
Mulin então, repetiu os feitos de todos perante a comitiva, mas desta vez sem nenhum aumento à história dos feitos de cada um. Como por encanto o povo parecia admirar ainda mais a seus jovens. Mas um homem possuía seu coração aflito. Ele sabia o que iria se seguir e temia pela resposta de seu filho.
Quando todos os feitos foram contados e ouvidos era claro para todos que o mais impressionante havia sido o ato dos jovens primos. Algumas das bruxas simplesmente não conseguiam tirar os olhos do jovem Toul, tamanha fora sua cativação pelo ato de bravura e pela aparência do jovem.
Toul em seu interior tinha certeza do que queria. Ele vira esse ritual por todos os anos de sua vida e sempre sonhou com a glória que ele representava. Tinha certeza em seu íntimo que iria conseguir, mas estava nervoso, quase a ponto de desmair. Sentia seu estomago dar um grande nó, ansioso pelo veredicto das bruxas, ele mal conseguia se conter em pé, mas agüentava firme ansiando pela convocação.
Jekita estava calma. Tinha certeza de que seria aceita. Era confiante e transpirava isso. Não tinha sonhado com isso toda sua vida, mas queria uma vida de aventuras e glória e queria muito servir a seu país. Ela fixou seus olhos em um momento em seu tio, pai de Toul e percebeu sua aflição. Mas rejeitou esse sentimento pois considerou ele sendo uma preocupação boba de alguém que passa sua vida servindo cerveja a outras pessoas.
As bruxas iniciaram a nomeação. Dos vinte e dois jovens, quinze foram chamados e apenas três declinaram da convocação em fins de uma vida mais simples e camponesa. Dentre os quinze jovens, Toul foi o primeiro a ser convocado e sua afirmativa interrompeu mesmo a proclamação completa de seu nome. Algo muito comum para os ansiosos jovens de Rashmen.
De seu recanto Jurimik, fechou seus olhos descontente, mas aceitou o fato. Perdera seu filho para o costume de seu povo. Ano após ano as coisas se repetiam, pois assim era seu país, uma terra que apesar de muitos acharem o contrário, Jurimik amava. Agora não havia mais outra escolha. Era assim todos os anos. Era tradição.
Jekita também fora convocada, fora a quarta a ser mencionada, o que ela considerou pessoalmente um insulto, pois em seus pensamentos fora ela quem não fora surpreendida e ainda por cima, dado a primeira estocada no urso. Sem ela seu primo não estaria nem ali. E apesar de no reino de Rashmen não haver distinção entre homens e mulheres, ela se sentiu estranha ao perceber que os outros dois jovens convocados eram homens e com feitos muito menores do que ela, o que a incomodou, muito, de fato.
Ao final da convocação os cavaleiros  comprimentaram a multidão e esta devolveu o comprimento. A comitiva partiu tomando seu caminho de volta a Rashemi, a capital de Rashmen.
E quando o povo se encontrava a só novamente ele se explodiu em festa, muito mais felizes, porque um grande número de seus filhos fora convocado para fazer parte das forças de Rashmen e com sorte ainda por cima talvez ter a honra de proteger uma bruxa.               

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